Pepe (PEPE): como a memecoin do sapo virou febre e o que está por trás do hype

Quando uma imagem de um sapo sorridente começou a circular nos fóruns da internet há mais de uma década, ninguém imaginava que, anos mais tarde, esse desenho se transformaria em símbolo de um fenômeno financeiro. O personagem criado por Matt Furie para a HQ “Boy’s Club” foi apropriado por comunidades online, ganhou vida própria em memes e acabou virando nome de uma criptomoeda.

Nas conversas sobre ativos digitais sempre aparecem projetos que prometem resolver problemas técnicos complexos, mas o caso do PEPE escapa dessa lógica. Ele nasceu como uma piada interna de desenvolvedores anônimos que queriam testar até onde o poder da cultura de internet conseguiria levar uma moeda sem utilidade prática. A viralização das figuras de Pepe o sapo como meme fez com que, logo nos primeiros dias de negociação do token, a demanda disparasse, elevando o preço de maneira vertiginosa.

O interesse estava menos ligado a fundamentos econômicos e mais ao sentimento coletivo de participar de algo curioso e divertido. Em grupos de Telegram e Twitter, milhares de pessoas passaram a trocar informações, publicar montagens engraçadas com o sapo e acompanhar a cotação como se fosse um jogo.

Uma das razões que transformaram PEPE em manchete foi a rapidez com que saiu do zero para bilhão. Lançado em 16 de abril de 2023 na rede Ethereum, ele alcançou um valor de mercado superior a um bilhão de dólares em menos de um mês. Em poucos dias, a notícia de que um token inspirado em um meme havia ultrapassado marcas que projetos sérios demoraram anos para atingir chamou atenção de traders e curiosos. Boa parte da imprensa destacava que nem o próprio criador do personagem, Matt Furie, estava envolvido com o projeto, o que tornava a situação ainda mais bizarra. A ausência de uma conexão oficial não impediu que a comunidade se organizasse para impulsionar a moeda. Canais nas redes sociais começaram a criar narrativas, como se o sapo tivesse “voltado dos esgotos” para desafiar os gigantes do setor. Esse aspecto de storytelling colaborativo estimulou a imaginação dos investidores, que enxergavam na compra de PEPE uma forma de participar de uma brincadeira coletiva. A primeira fase de euforia coincidiu com um momento em que as taxas na rede Ethereum estavam relativamente baixas, o que facilitou a entrada de pequenos especuladores.

Entender o propósito de PEPE exige aceitar que, diferentemente de outros criptoativos, ele não foi desenhado para solucionar dores tecnológicas ou financeiras. Os desenvolvedores se colocam de forma anônima, evitando ser tratados como “equipe” e preferem se apresentar como facilitadores de uma experiência comunitária. A proposta se resume a ser a “memecoin mais memeável do mundo”, ou seja, um token cuja razão de existir está em celebrar a cultura de memes e testar o quão longe uma comunidade engajada consegue levar um ativo que não promete revoluções. Ao contrário de projetos que concentram esforços em criar produtos, PEPE se apoia no entusiasmo do público. Assim, a área de atuação da moeda é a própria comunidade: fóruns, redes sociais e grupos de conversa onde a performance de uma moeda que faz graça com o mercado vira assunto. Essa abordagem invertida, que coloca o entretenimento à frente de utilidade, é um experimento sociológico tanto quanto financeiro.

Mesmo que a utilidade de PEPE seja intangível, a forma como o token captura valor se apoia em mecanismos conhecidos no universo dos criptoativos. Por ser um token ERC-20, ele roda sobre a infraestrutura da Ethereum e herda a segurança da rede após sua transição para prova de participação. A equipe enfatizou desde o começo que não haveria taxa em transações, medida que visava atrair um público maior. A ausência de taxação, combinada com um mecanismo deflacionário, onde parte do suprimento é queimada ao longo do tempo, cria uma percepção de escassez.

Outro elemento usado para incentivar a retenção é a redistribuição de uma fração das transações para quem mantém o token, estratégia que recompensa holders. O uso prático do token se resume a especulação, microgorjetas em plataformas sociais e participação em campanhas internas, como sorteios comunitários. Alguns membros chegaram a propor o “Pepe Academy”, iniciativa para ensinar fundamentos de blockchain de forma descontraída, mas não há produto estruturado. Assim, o valor de PEPE decorre da adesão de novos participantes e da narrativa em torno do meme, não de serviços ou utilidades intrínsecas.

Os números de PEPE traduzem o espírito irreverente dos criadores. O suprimento total foi definido em 420,69 trilhões de unidades, uma referência a gírias populares na internet. Desses, 93,1 % foram lançados em uma pool de liquidez na Uniswap logo no início; os 6,9 % restantes ficaram guardados em uma carteira multisig para futuras operações de liquidez centralizada e para listagens em exchanges. Não houve pré‑venda ou distribuição privada, fato que reforça a narrativa de “moeda do povo”.

As transações não pagam impostos e não há taxas para transferir tokens. O modelo deflacionário se dá por meio da queima de tokens e da redistribuição: uma parcela de cada transação é queimada, reduzindo a oferta, enquanto outra parcela volta para os detentores. Esse esquema lembra programas de recompra de ações, estimulando quem acredita que a escassez futura pode pressionar o preço. Como não existe um roteiro de desenvolvimento ou um fundo de tesouraria para financiar projetos, os usuários entendem que estão apostando na força da comunidade e na cultura meme para sustentar o valor.

A dúvida sobre quem está por trás da moeda foi amplamente discutida. Diferentemente de muitas startups cripto, que fazem questão de exibir seus fundadores em conferências, os responsáveis por PEPE optaram pelo anonimato. Dois pseudônimos, pr0m3theus e damoos3, surgiram como os criadores iniciais, mas eles não se apresentam como líderes. Essa decisão de permanecer no escuro tem vantagens e inconvenientes. De um lado, reforça a ideia de que o projeto é descentralizado e pertence aos participantes. De outro, dificulta responsabilizações em caso de problemas ou irregularidades.

A anonimidade também alimenta teorias conspiratórias nas comunidades, que vão de suspeitas de ser um golpe até fantasias de que grandes influenciadores estão secretamente envolvidos. Além disso, a inexistência de relação com Matt Furie, autor original do Pepe the Frog, gerou debates sobre direitos autorais e sobre como memecoins se apropriariam de personagens famosos sem autorização.

Até o momento, Furie não manifestou apoio ao token, e iniciativas oficiais do PEPE ressaltam que o meme pertence à internet, não a uma pessoa. Isso compõe a mística e a polêmica em torno da equipe por trás do projeto.Comparar PEPE com outras memecoins ajuda a entender seu posicionamento. O Dogecoin, criado em 2013 e apresentado em nosso artigo sobre o assunto, nasceu como sátira e cresceu graças a uma comunidade fiel que se organiza para dar gorjetas e apoiar projetos.

Apesar de ter utilidade limitada, o Dogecoin possui uma blockchain própria e uma oferta infinita, o que o diferencia de PEPE. Já a Shiba Inu (SHIB), descrita em outro artigo do site, também se inspirou em um meme mas evoluiu para criar um ecossistema de finanas descentralizadas com staking, swap de tokens e NFTs. SHIB tem um roadmap mais claro e busca se consolidar como plataforma de serviços, enquanto PEPE assume desde o início que seu foco é o humor e a comunidade. O sucesso de outras memecoins, como Floki Inu e BabyDoge, também mostra que existe um público disposto a apostar em narrativas divertidas.

Ainda assim, Dogecoin e Shiba Inu permanecem os principais concorrentes diretos, servindo de referência de longevidade e mostrando que, para sobreviver, uma memecoin precisa evoluir além do hype inicial. Os entusiastas de PEPE citam a rapidez com que o token obteve volume de negociação e a força de suas redes sociais como diferenciais, mas reconhecem que falta um ecossistema mais robusto.

Se o apelo de PEPE é evidente, os desafios também são. A volatilidade é a regra; por ser impulsionada por especulação e humor, a moeda sofre com oscilações extremas. Pequenas notícias ou influenciadores podem disparar movimentos abruptos de compra ou venda, deixando investidores presos em ciclos de euforia e pânico. Como a maior parte do suprimento está concentrada em algumas carteiras anônimas, há o risco de baleias venderem volumes significativos e derrubarem o preço. Outro ponto sensível é a ausência de um modelo de negócio sustentável.

Sem uma proposta de valor tangível além do entretenimento, a longevidade depende da capacidade da comunidade em manter o interesse. Autoridades regulatórias e órgãos de copyright podem questionar o uso de um personagem popular sem licença, o que poderia resultar em processos. Além disso, a correlação com o mercado de memecoins faz com que PEPE seja impactado por mudanças de humor dos investidores; uma queda generalizada no interesse por memes pode afetar seriamente a liquidez. Por fim, a falta de governança formal ou fundos de tesouraria significa que qualquer iniciativa para expandir o projeto precisa ser financiada espontaneamente pelos usuários, algo difícil de sustentar a longo prazo.

Há detalhes curiosos que passam despercebidos à primeira vista. O valor simbólico do suprimento total, 420,69 trilhões, remete a piadas sobre maconha e sexualidade comuns em fóruns, reforçando a estética despretensiosa do token. O número de tokens queimados desde o lançamento é relativamente pequeno comparado à oferta total, mas a narrativa de deflação motiva discussões. A velocidade com que o PEPE foi listado em grandes corretoras descentralizadas superou expectativas, e rumores sobre listagens em exchanges centralizadas alimentaram ondas de compra.

A comunidade se engaja em iniciativas curiosas, como a “Pepe Academy”, que produz vídeos didáticos e memes educativos para explicar blockchain a novatos. Outro aspecto pouco comentado é o impacto das altas taxas de gas da Ethereum em momentos de congestionamento: como PEPE roda sobre essa rede, usuários com menor capital às vezes ficam de fora de oportunidades devido aos custos. Há também o debate sobre a transição da Ethereum para a prova de participação e como isso melhora a segurança e o consumo energético do PEPE. Esses detalhes revelam que, por trás da aparência de brincadeira, existe uma comunidade que reflete sobre mecanismos de mercado e tendências tecnológicas.

No final das contas, o fenômeno PEPE ilustra como a economia digital é influenciada por cultura e narrativa. Em vez de surgir para resolver um problema, a memecoin do sapo surgiu para divertir e provocar. Sua ascensão meteórica mostra que pessoas estão dispostas a investir em histórias que as façam sentir parte de algo maior, mesmo sem utilidade prática imediata. Ao mesmo tempo, a trajetória de outras memecoins indica que, para sobreviver, um projeto precisa evoluir: criar produtos, diversificar usos e fortalecer governança.

Quem se interessa por PEPE deve enxergá-lo como um experimento social em andamento e lembrar que a diversão não elimina os riscos. Investir em memecoins é semelhante a apoiar uma obra de arte pop; há prazer em participar, mas não há garantia de retorno. Ao acompanhar os rumos do PEPE, é fundamental manter o senso crítico e entender que, em um mercado movido por memes, a linha entre brincadeira e especulação fica difusa.

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